27 de novembro de 2008

O esporte mudou?

Alguns processos levam tempo, vão acontecendo aos poucos sem quase ninguém perceber e de repente já fazem parte do nosso dia-a-dia. Nesse momento acontece alguma coisa que simboliza este novo cenário e todos, a partir de então, lembram-se: “Desde aquele fato as coisas mudaram...”
O Mundial da Malásia pode ser um desses marcos. Maria Ponton fez a prova inteira na frente, variando o ritmo o tempo todo (20, 18, 19, 16, 18, 17 e 21 foram suas médias por anel) e sagrou-se campeã do mundo. Mais do que investir numa estratégia diferente do padrão europeu (até então vencedor absoluto em mundiais), Maria virou as costas para uma “pressão social” (européia) que rotulava de “sem cabeça”, “despreparado” e “tolo que não entende o esporte e o ritmo do cavalo” aqueles que não faziam os primeiros anéis devagar para (tentar) recuperar nos últimos.

Será que ela fez isso porque monta nos Emirados, onde todas as provas são ganhas assim? Ou por influência dos treinadores uruguaios que tem na equipe? Será que essa estratégia sempre foi potencialmente vencedora ou só em determinados locais é vantajosa? Se a prova tivesse 6 anéis com descansos mais curtos e uma última etapa mais longa, a história seria a mesma? Nas velocidades nas quais são corridas as provas hoje em dia, é mesmo vantagem ter um cavalo inteiro e 15 minutos (ou mais) de desvantagem no último anel?

Enfim, o esporte mudou ou só se constatou que em condições diferentes das européias nem sempre a estratégia crescente é indiscutivelmente a melhor?

Em qualquer um dos casos, nós, brasileiros, podemos parar de nos culpar por nunca ter conseguido ser tão estrategicamente disciplinados e conscientes como franceses, espanhóis, italianos, etc.