15 de março de 2010

Em busca da verdade

Em todos os campos do conhecimento existe uma disputa entre teorias rivais tentando explicar a realidade e desenvolver um modo de enxergá-la. Nos esportes isto também se verifica, mas eliminar as teorias falsas torna-se especialmente difícil porque não há como fazer testes controlados e todo resultado provém de múltiplos fatores – vários deles incontroláveis e não-observáveis. No entanto, seja pelo desempenho daqueles que a adotam, seja pela força “comercial” que tem, uma ou duas teorias terminam dominando o esporte, fazendo com que todas as análises se dêem com base nela(s) e estabelecendo verdades que não são questionadas.

No enduro, porém, este processo encontra-se em fase embrionária. Quase qualquer coisa que se diga pode ser defendida ou atacada, seja com resultados de provas ou de modus operandi de alguém importante. A “prova crescente” francesa tem muitos defensores e é suportada por uma teoria elegante, no entanto não se verifica nos EAU nem no Uruguai; eletrólitos são vistos como fundamentais por alguns, e inúteis por outros; Barbara Lissarague, campeã mundial, trabalha seus cavalos no picadeiro, para que tudo seja mais fácil na trilha – faz sentindo – já Jack Begaud (que apesar de nunca ter sido campeão mundial é tão importante quanto um) defende que treinando na trilha o cavalo já aprende tudo que precisa – também faz sentido. Há cavaleiros que montam em suspensão, outros sentados de modo clássico e um terceiro grupo senta na sela, estriba o mais longo possível e coloca os pés o mais pra frente que pode – todos eles ganham provas importantes. As selas também variam do estilo Western às seletas inglesas – passando por todos os possíveis graus de combinação, selas de plástico, etc. O fator mais discutido parece ser o cavalo e, apesar de haver elementos geralmente aceitos (aprumos corretos, canela curta, quartela pequena, cascos redondos e bem alinhados, etc) não há um “cavalo ideal”: apesar da ampla busca por um cavalo de 1,57m, o atual campeão da President’s Cup e recordista de velocidade nos 160kms é só um dos exemplos de campeões baixos (Nobby, campeão mundial na Malásia, é outro).

Ao começar no esporte, um iniciante provavelmente não saberá o que fazer sem o conforto de um guia básico e seguro. Mesmo um iniciado ficará confuso ao avaliar se está fazendo as coisas de modo correto e ao tentar encontrar pontos onde possa melhorar. No entanto, podemos dizer que toda essa “pluralidade caótica” é positiva, pois significa que temos muita coisa a melhorar e estamos explorando diversos caminhos para chegarmos lá.