17 de maio de 2009

The self made country

Após a derrota por 1x0 para o Brasil nas oitavas de final da Copa do Mundo de 1994, alguém (não me lembro exatamente quem) ligado à seleção dos EUA afirmou (não exatamente nessas palavras): “Em 10 anos os EUA jogarão de igual pra igual com qualquer time do mundo. Os americanos querem ser os melhores no futebol, e eles sempre conseguem o que querem”.
No enduro, apesar da situação ser diferente (eles foram os melhores, vencendo todos os 7 mundiais de 1986 até 1998),  o discurso (pelo menos aquele com o qual eu tive contato) foi, por muito tempo, similar: “os EUA têm X provas por ano, cada uma com Y participantes e por isso não precisa do resto do mundo ou da FEI. Nada que aconteça fora do país importa”.
Assim como acreditar que nada pode te parar talvez te leve à derrota, acreditar que você é o melhor e que todo o resto não deve ser levado em consideração pode fazer com que você fique para trás. Foi o que aconteceu com os EUA, que perderam completamente o respeito que tinham no cenário internacional, apresentam resultados pífios em competições fora dos EUA há muito tempo e hoje nem são vistos como ameaça pelos demais países.
Tudo isto está prestes a mudar. É o que garantem os americanos. Com a realização do mundial no Kentucky em 2010, Becky Hart (3 vezes campeã do mundo – com o mesmo cavalo) como técnica, Valerie Kanavy viajando o mundo para aprender como se corre hoje em dia e todos humildemente assumindo que terão de mudar algumas coisas, a esperança dos ex-melhores é voltarem a sagrarem-se campeões mundiais.
Acredito que esta mudança de atitude já seja suficiente para que o mundo volte a olhá-los com outros olhos, no entanto na trilha ainda se vê um time pouco competitivo. Tanto no try-out da Malásia quanto no Panamericano do Uruguai (últimas duas vezes que eu os vi correr) os cavaleiros americanos abdicaram da vitória e correram para completar a prova. Ao não se testarem, com certeza voltaram para casa com cavalos mais sãos e mais treinados, no entanto perderam duas oportunidades quase únicas de aprendizado.
E você, acredita na ressurreição americana? Comentem!

PS: não estou discutindo a filosofia "to finish is to win" ou "faço enduro para me divertir e não para colocar meu cavalo em risco", apenas o quanto se consegue ser competitivo ao se fechar.

10 de maio de 2009

Fooled by randomness

Achei muito curioso o questionamento do Carlos Valença a respeito do resultado do Panamericano do Uruguai. Curioso porque ao comparar os acontecimentos com a final da Copa do Mundo de 1998, tornou-se clara toda a arrogância natural a qualquer ser humano.

É difícil aceitar que o desenrolar dos acontecimentos não é aquele que esperávamos. É difícil admitir que toda a análise que se fez antes do evento estava errada (ou excessivamente pretensiosa). E, mais difícil ainda, é reconhecer que as coisas não são previsíveis e previamente determinadas pelas condições iniciais. Assim, quando o resultado é diferente do esperado, todos correm a criar teorias para trazer o inesperado de volta ao campo dos fatos explicáveis. Esta busca por respostas não é necessariamente ruim, na verdade é muito boa e extremamente importante na medida em que essas teorias podem nos ajudar a, de fato, compreender o que aconteceu e a desenvolver nosso conhecimento a respeito do assunto. No entanto, quando essas teorias não são testáveis (como a maioria das que surge nesses momentos) terminam por criar verdades absolutas e impedir que se avance nas questões e que se evite os mesmos erros no futuro.

Segundo esta lógica de que “tudo tem uma razão”, se o jogador erra um pênalti na final é porque ele amarelou; se marca um gol nos acréscimos é porque cresce nas decisões; se o cavalo tem flutter é porque o cavaleiro passou seu nervosismo para ele; e se o Brasil leva o que tem de melhor pro Uruguai e volta sem nenhuma medalha é porque alguma coisa obscura aconteceu. Dado que não temos como saber se essas teorias são verdadeiras ou não, o melhor a fazer é ignorá-las, já que não nos ajudarão a evoluir como esportistas. O caminho é se concentrar naquilo que pode aumentar nosso conhecimento, admitir que não sabemos tudo e aceitar que há muita coisa para as quais nunca teremos a explicação completa, incluindo aí o acaso.

Quanto à prova posso dizer que me orgulho de ter feito parte de um grupo de mais de 50 pessoas completamente diferentes que, mesmo num ambiente extremamente competitivo, não tiveram nenhum problema de relacionamento (com grande ajuda do Olavo, Henrique e Guilherme – há que se ressaltar) e que se o resultado não foi positivo como esperávamos, não foi por problemas obscuros ou de ordem pessoal, mas sim porque tentamos vencer e não conseguimos.
Que cometemos erros é óbvio (assim como o fizemos em provas nas quais saímos vitoriosos, como Bahrain, Pinamar e Campinas) e da minha parte posso destacar ter deixado de me questionar se não havia como ser campeão sem estar na ponta todo o tempo. Ainda assim, prefiro cometer este erro e aprender do que não tentar ganhar, terminar a prova sem nunca ter tido chance a nada e continuar estático, com o mesmo conhecimento e visão que tinha antes da largada.