10 de maio de 2009

Fooled by randomness

Achei muito curioso o questionamento do Carlos Valença a respeito do resultado do Panamericano do Uruguai. Curioso porque ao comparar os acontecimentos com a final da Copa do Mundo de 1998, tornou-se clara toda a arrogância natural a qualquer ser humano.

É difícil aceitar que o desenrolar dos acontecimentos não é aquele que esperávamos. É difícil admitir que toda a análise que se fez antes do evento estava errada (ou excessivamente pretensiosa). E, mais difícil ainda, é reconhecer que as coisas não são previsíveis e previamente determinadas pelas condições iniciais. Assim, quando o resultado é diferente do esperado, todos correm a criar teorias para trazer o inesperado de volta ao campo dos fatos explicáveis. Esta busca por respostas não é necessariamente ruim, na verdade é muito boa e extremamente importante na medida em que essas teorias podem nos ajudar a, de fato, compreender o que aconteceu e a desenvolver nosso conhecimento a respeito do assunto. No entanto, quando essas teorias não são testáveis (como a maioria das que surge nesses momentos) terminam por criar verdades absolutas e impedir que se avance nas questões e que se evite os mesmos erros no futuro.

Segundo esta lógica de que “tudo tem uma razão”, se o jogador erra um pênalti na final é porque ele amarelou; se marca um gol nos acréscimos é porque cresce nas decisões; se o cavalo tem flutter é porque o cavaleiro passou seu nervosismo para ele; e se o Brasil leva o que tem de melhor pro Uruguai e volta sem nenhuma medalha é porque alguma coisa obscura aconteceu. Dado que não temos como saber se essas teorias são verdadeiras ou não, o melhor a fazer é ignorá-las, já que não nos ajudarão a evoluir como esportistas. O caminho é se concentrar naquilo que pode aumentar nosso conhecimento, admitir que não sabemos tudo e aceitar que há muita coisa para as quais nunca teremos a explicação completa, incluindo aí o acaso.

Quanto à prova posso dizer que me orgulho de ter feito parte de um grupo de mais de 50 pessoas completamente diferentes que, mesmo num ambiente extremamente competitivo, não tiveram nenhum problema de relacionamento (com grande ajuda do Olavo, Henrique e Guilherme – há que se ressaltar) e que se o resultado não foi positivo como esperávamos, não foi por problemas obscuros ou de ordem pessoal, mas sim porque tentamos vencer e não conseguimos.
Que cometemos erros é óbvio (assim como o fizemos em provas nas quais saímos vitoriosos, como Bahrain, Pinamar e Campinas) e da minha parte posso destacar ter deixado de me questionar se não havia como ser campeão sem estar na ponta todo o tempo. Ainda assim, prefiro cometer este erro e aprender do que não tentar ganhar, terminar a prova sem nunca ter tido chance a nada e continuar estático, com o mesmo conhecimento e visão que tinha antes da largada.

2 comentários:

jvarandabr disse...

André,
Como sempre, seus comentários são muito sensatos e equilibrados. Parabéns. Além disso, é sempre muito bom saber dos fatos por alguém que os vivenciou. Sempre achei também que correr só visando o resultado da equipe é, de certa forma, um apequenamento do potencial de nossos conjuntos e, em algumas situações, acho que poderíamos ter conseguido mais projeção se estivéssemos dispostos a correr riscos.
Mas pude perceber, nos posts do Valença, uma proposta dele com a qual concordo, que seria a elaboração de um balanço de erros x acertos, o que entendo ser de grande valia para o aprendizado de todos, especialmente daqueles que não puderam estar presentes ao evento. Muitas vezes tive acesso, em conversas privadas, a informações sobre fatos ocorridos em provas internacionais que me permitiram acompanhar a evolução do esporte, rever estratégias e/ou procedimentos. Penso que essa idéia está completamente alinhada com os objetivos do seu blog.
Forte abraço,
Varanda

Avz disse...

Varanda,
estou 100% de acordo com estas idéias, presentes tanto no seu comentário quanto nos emails do Valença. Acredito que as discussões e trocas de idéia sejam os caminhos para a evolução.
Este foi o intuito do texto, inclusive, que procura mostrar que devemos discutir sim, procurando sempre idéias que possam ser contestadas e que permitam que a conversa evolua.

Abraço!
Andre