28 de abril de 2008

Mais que uma prova

Com 6 anos fiz minha primeira prova de enduro e logo depois comecei a montar na hípica. Aos 15 tive que escolher entre salto e enduro, já que era impossível levar ambos a sério. Uma das razões que me fez abrir mão do salto foi o fato de que no enduro eu teria muito mais chances de participar de um mundial do que no salto.

É mais ou menos esse o pensamento da maioria dos enduristas: tudo pelo mundial. Todos se lembram de como cada diretor da CBH definiu a seletiva para os mundiais, embora poucos saibam dizer o que mais cada um que passou pelo cargo fez. Todo mundo sabe quem são os cavalos aptos a participarem do mundial da Malásia, mas é difícil elencar os favoritos a ganhar o Campeonato Brasileiro. O mais comum nas entrevistas com enduristas é escutar que o seu sonho é participar, ser medalhista ou ganhar um mundial, sendo que quase nunca se ouve que é ser campeão brasileiro.

Não estou dizendo que devemos virar as costas para o mundial ou algo assim, muito pelo contrário. Não sou hipócrita e me encaixo em tudo isso que citei: meu sonho é ser campeão mundial e é provável que por isso eu não tenha cavalo para disputar o título brasileiro este ano. No entanto, acredito que o esporte no Brasil é maior do que o Campeonato Mundial. Temos ótimos cavalos – e criações muito competentes – cavaleiros empenhados e provas bem organizadas e competitivas. Enfim, somos grandes! Apesar disso, ninguém parece se contentar em ser campeão brasileiro ou ganhar provas aqui, como se o que se passasse dentro do país não contasse ou não fossem “bom o suficiente”.

Acredito que ambições internacionais são muito boas: nos fazem procurar evoluir e nos motivam a nos empenhar cada vez mais, porém não podemos desprezar aquilo que temos e, muito menos, organizar todo o esporte pensando no Mundial. Este é uma prova que acontece a cada dois anos num local e em condições escolhidas pela FEI, onde o Brasil não tem qualquer influência (até hoje pelo menos). Só podemos participar com 6 conjuntos – sem direito a cavalos reserva – e temos que viajar para correr.

Ou seja, o que vem acontecendo não tem muito sentido: organizamos todo o calendário pensando no Mundial; escolhemos, então, 6 conjuntos que viajam até o lugar da prova; aí, normalmente, já perdemos um cavalo que sentiu a viagem e não correrá em 100% de condições; se corrermos para ganhar, 2 ou 3 terminarão a prova; caso 3 completem, há uma chance de ganhar uma medalha por equipe (se estes tiverem entre os 4 escolhidos para a equipe e atingirem colocações suficientes para estar entre as 3 primeiras equipes); fora isso temos que torcer para algum cavalo estar muitíssimo bem no dia e ter uma dose de sorte, para disputar uma medalha individualmente. No final das contas, todo o esporte, durante 2 anos, se voltou para uma chance mínima de medalha no Campeonato Mundial.

Claro que todo o processo de seleção e escolha da equipe faz parte do esporte e o ajuda a crescer, mas me parece que seria muito mais benéfico ouvir de todos “Tentarei ser campeão brasileiro” do que “Só vou completar o Brasileiro para me qualificar para o Mundial”. O enduro brasileiro é mais do que uma prova.

14 de abril de 2008

Haras Endurance 2008

Esporte está muito ligado à tradição. No enduro não é diferente: todos se lembram dos cavalos, rivalidades e provas históricas. Hoje, existem duas provas marcantes do ano: Campeonato Brasileiro e Haras Endurance. A primeira é importante pelo nome e pelo que significa ganhá-la: ser o melhor conjunto do país naquele ano. A segunda chegou a um status parecido devido à repetição da prova no mesmo local e data por 8 anos consecutivos. Hoje todos se lembram do que aconteceu nos campeonatos brasileiros, e como foi cada Haras Endurance.
O que podemos esperar da edição 2008? Por um lado um pouco menos de competitividade nos 160kms (ainda mais se compararmos com a prova do ano passado, a mais competitiva de todas as edições), já que muita gente precisa completar uma prova para se qualificar para a Malásia. Por outro, contato com gente importante do Uruguai (família Olascoaga e Juan Sosa, por exemplo) e Argentina (família Pavlovski), que junto com o Brasil configuram o enduro na América do Sul. Há a possibilidade, ainda, de vir gente do Emirados Árabes. Tudo isso reforça a sensação que eu tenho que a cada ano o enduro torna-se um esporte mais global: hoje estamos muito mais próximos de Uruguai e Argentina e temos verdadeiros relacionamentos com a Europa e Emirados Árabes.
Na trilha não há muitas novidades: haverá morros, como sempre, e partes planas, como a volta no lago, por exemplo. O clima deverá ser próximo ao dos anos anteriores: partes quentes durante o dia, sem nada que maltrate demais os cavalos ou que impeça velocidades altas, junto com partes um pouco mais amenas.
Por fim teremos o já tradicional leilão, que reforça a parte comercial do enduro, aspecto muito menos desenvolvido em nosso país do que em outros. É interessante mesmo para aqueles que não têm interesse em comprar cavalos, já que saber o que se passa no comércio é sempre importante.