2 de março de 2009

Sobre o tratamento dado aos novatos

É engraçado como algumas alegações ganham status de verdade sem nunca terem sido testadas ou se quer discutidas. No enduro há alguns exemplos, mas o mais infundado, ao meu ver, é o de que “o novato é deixado de lado” e que isso levaria a um esporte “com a pirâmide invertida” (com mais praticantes de alto nível do que de nível médio ou baixo) condenando-o à diminuição e, quem sabe, à extinção.

Em relação à pirâmide de usuários, não me parece o caso, dado que normalmente as provas menores têm mais inscrições e com gente mais diversificada - na longa distância são sempre as mesmas pessoas em todas as provas. De qualquer maneira, uma análise mais aprofundada seria muito interessante.

No entanto, é a causa desta “inversão piramidal” – a negligência com novatos – que é o ponto mais fraco da linha de raciocínio. A importância que se dá aos iniciantes não é baixa, nem na teoria, nem na prática. No aspecto teórico basta observar as reuniões dos dirigentes do esporte: sempre há discussões acaloradas sobre como melhor atender aqueles que estão começando ou que praticam enduro apenas por diversão. Me parece ser o assunto mais discutido entre aqueles que tomam decisões, com revisões todas as temporadas, estatísticas de inscrições, etc. Esta preocupação transcende a teoria e se manifesta na prática: as provas com até 80kms são aquelas que contam com o maior número de categorias. Assim, o novato que desejar fazer prova de placas terá uma categoria para si (outra para o filho e uma terceira para a mulher), bem como aquele que prefere o regulamento de batimentos ou o terceiro, que quer fazer velocidade livre.

Se há descontentamento destes (e eu não tenho certeza que haja), se dá por um, ou por uma mistura, dos seguintes motivos: (I) os dirigentes, apesar de bem intencionados, não estão sabendo ouvir os principiantes; (II) os novatos, por se envolverem pouco, estão longe das discussões sobre calendário, regulamentos, preço de inscrição, taxas, etc e terminam vendo as decisões como imposições descabidas, uma vez que não existe um canal de comunicação entre a classe dirigente e aqueles que praticam o esporte de uma maneira menos intensa. Em qualquer um dos casos, o problema não é falta de interesse pelo fomento.