3 de março de 2008

O que é a President’s Cup

Como endurista, sempre quis conhecer a President’s Cup. Muitos dizem que, hoje, é a prova mais importante do mundo. Para mim, dizer simplesmente que é a President’s Cup significa muito mais do que ser “a mais isso” ou “a mais aquilo”, assim como Compiègne é Compiègne, o Campeonato Brasileiro é o Campeonato Brasileiro e o Mundial é o Mundial.

No pré-vet, sexta à tarde, já se sente o peso que a prova tem em todo o mundo. Encontra-se muita gente muito importante no enduro, como Becky Hart (campeã mundal em 1988, 1990 e 1992), Virginie Atger (vice campeã mundial em 2006), Juma Puntí (4º colocado em Aachen e 2º no Europeu), Cécile Miletto (vice campeã mundial em 2000), Pio Olascoaga (campeão de Compiègne 2007), além de todos os cavaleiros árabes e treinadores dos Sheikhs e os veterinários e juízes que sempre estão nos mundiais.

No total são 87 inscrições (na única categoria da prova), muitas decididas em cima da hora, já que o filho de um amigo de um Sheikh pode decidir no último momento montar ou não. São relativamente poucas inscrições, se o número for comparado ao das outras provas da temporada (de 120kms). Os cavalos são conhecidos pelos outros treinadores, seja por seu valor, por resultados passados ou pela expectativa de que o cavalo possa fazer algo positivo. Um dos animais mais comentados era RO Acuarela – irmã de RO Fabiola – égua considerada muito boa mas extremamente difícil de ser montada. Só se soube que ela seria montada e quem a montaria depois do pré-vet.

Os animais então são numerados (os Sheikhs e demais VIPs – como o rei malaio – recebem números especiais) e os cavalos cujas cocheiras se localizam perto do local da prova dormem em suas casas (ao contrário do que acontece nas rígidas provas FEI do Brasil), enquanto os outros têm cocheiras próximas ao parque.

Às 6:07 da manhã é dada a largada na impressionante estrutura de Abu Dhabi. Durante os 34kms do primeiro anel vão se formando grupos de cavalos. O primeiro grupo termina a primeira etapa em 1:20 e os cavalos entram no vet entre 1 e 2 minutos. São 25,2kms/h. Assim que chegam à linha de trote, o veterinário encosta um sensor de Polar nos cavalos, mostra-se, então, numa grande tela qual é o batimento do cavalo. Caso, em 1 minuto, este não fique 15 segundos seguidos abaixo de 64 pulsações, o cavalo tem que sair, recuperar-se e entrar de novo. Logo na saída do vet já está disponível o resultado até aquele momento, em folhas impressas e com as quais todos os cavaleiros ficam analisando sua posição em relação aos demais. Estas duas tecnologias – a tela do Polar e os resultados “ao vivo” – são as coisas mais interessantes que já vi no enduro, tanto para tornar as provas mais competitivas como para dar seriedade a elas. Em terceiro lugar vem o colar francês.

Depois de 30mins larga-se para o segundo anel. Como já faz calor (cerca de 30⁰C e baixa humidade), agora a assistência oferece água para que os cavaleiros molhem os cavalos o tempo todo. São 2 carros por conjunto, alternando-se na assistência, de modo que o cavalo nunca fique seco. Há apenas alguns kilometros – dentro de um parque – no qual não é permitido dar garrafas de água. Fora isso, a única coisa proibida é molhar os cavalos ou dar garrafas de dentro do carro. A ponta completa esta etapa de 32kms em 24,4kms/h. Ao final desta já são 19 eliminados, sendo um deles Acuarela, que derrubou Sheikh Rashid no 1º anel e o completou desmontada.

A terceira etapa – de 30kms – é corrida um pouco mais devagar: 23,8kms/h. O primeiro a entrar no vet é Jibbah Enog, cavalo que ganhou algumas provas na última temporada, em 1 minuto e 22 segundos depois de chegar. Muitas são as teorias para explicar porque os cavalos entram tão rápido. Alguns acreditam que é pela água disponível que evita que os cavalos se aqueçam demais, outros acham que o ritmo constante em que o coração trabalha ajuda a diminuir o tempo de recuperação. O que eu notei é que o modo como o vet-check é montado (uma linha reta entre a chegada e a entrada do vet, na qual os cavalos são molhados) ajuda também. O fato é que, até aqui, muitos nem checam o coração dos cavalos antes de entrar.

O 4º anel, de 24kms, é o mais esperado. Nele é que fica o famoso Tora-Bora, ou “sobe-desce” em árabe. Não é nada muito assustador para quem monta no Brasil, mas para cavalos que montam o tempo todo no plano e já fizeram 96kms a 24kms/h é bastante duro. Trata-se de aproximadamente 5kms de curtas e relativamente íngrimes subidas e descidas seguidas . A assistência corre como em nenhum outro lugar na prova e há dezenas de carros e pessoas se cruzando com garrafas de água para todo lado. No final do anel, Jibbah Enog continua em primeiro ao completar o anel a 21kms/h e entrar em 1 minuto e 51 segundos. Em segundo lugar entra Sheikh Hamdan, filho do Sheikh Mohammed, 7 segundos atrás.

O penúltimo anel também tem 24kms. Com a aproximação do fim da prova é muito importante estar na ponta. Esta, agora, se restringe a 4 cavalos. No vet, depois de fazer o anel em 1 hora, os cavalos demoram 5 minutos para entrar no vet – tempo relativamente longo se pensarmos nos outros anéis. Jibbah Enog demora 10 minutos e deixa a ponta para Ali Khalfan, cavaleiro conhecido e vitorioso nos Emirados, Mohammed e Sheikh Hamdan, estes dois últimos montando cavalos de Sheikh Mohammed.

O último anel é mais curto, são 16kms. Ali Khalfan e Mohammed disputam a liderança por todo o anel, enquanto Sheikh Hamdan fica um pouco para trás. Alguns kilometros antes da chegada, o cavalo de Ali Khalfan se lesiona e começa a mancar, o que o faz parar e ir puxando o animal até o vet. Mohammed espera pelo Sheikh na longa linha de chegada, deixa-o passar e cruza a linha logo em seguida. Assim, Shiekh Hamdan e Kaysand Farrazah – PSA de 1996 – vencem os 160kms a 23,27kms/h.

Assim que o 3º colocado passa no vet-check final é feita a premiação. Uma cerimônia de 5 minutos na qual cada um recebe seu troféu e algum prêmio (como, por exemplo, um carro). Mais tarde é realizado o Best-Condition, de modo semelhante como é feito no Brasil. No final são 22 classificados, sendo um deles o rei da Malásia, que agora conta com a qualificação FEI para correr o mundial em seu país.

E assim é a President’s Cup: uma grande competição, em ritmo alucinante, onde 10 segundos fazem grande diferença e da qual os Sheikhs são as principais estrelas.

4 comentários:

Arabian Horse Group disse...

Nossa que loco deve ser isso, a prova é muita rapida mesmo, os cavalos devem ficar dias parado depois da prova para recuperar...
Muito legal poder estar la de perto acompanhando a prova.
Valeu André.

jose gomes disse...

muito boa a reportagem, parece que a gente esta la. PARABENS!!!

Anônimo disse...

Parabéns André, belo trabalho!!!!

Anônimo disse...

Adorei o texto! Muito bem escrito! Tá quase chegando no nível da irmã...